Ontem perdi um amigo!
Estivemos juntos apenas um ano e meio, mas foi tempo suficiente para o considerar parte da família.
E pensar que tudo começou naquele dia em que, no percurso habitual para o trabalho, o vi a ser abandonado pelos donos, numa estrada onde só passavam carros. Ao fim do dia lá estava ele, precisamente no mesmo local onde foi deixado, à espera que os donos voltassem para o ir buscar.
Falei com o meu namorado e levámo-lo para casa com a ideia de tratar dele e entregar posteriormente a um canil. Mas não o conseguimos fazer. Decidimos dar-lhe uma casa no quintal
(pois urinava por toda a casa e ja não conseguiamos ensiná-lo), comida e o pouco afeto que o pouco tempo nos possibilitava dar.
Nunca tinha visto tantos parasitas num só animal nem pensei que existissem carraças tão grandes e gordas ao ponto de já não se conseguirem agarrar ao cão e cairem ao chão por si próprias. E as feridas que ele tinha por causa de tantos parasitas... era triste. Tivemos que o tosquiar para desinfetar as feridas todas que se encontravam em todo o corpo.
Era um cãopanheiro já bastante velhote. Já lhe faltavam alguns dentes, estava doente da velhice, já não conseguia correr bem nem saltar sem escorregar... mas era tão meigo! Partia-me o coração sempre que lhe levantava a mão para lhe fazer uma festinha e ele se encolhia. Partia-me o coração pensar nos maus tratos que aquele animal sofreu.
Era o Farrusco!
Sempre que nos via ou ouvia chegar a casa ficava visivelmente feliz. Ladrava e raspava na porta para chamar a nossa atenção. Atenção essa que nós, cansados e ensonados, nem sempre dávamos como devia ser.
E agora ele partiu. De velhice, eu sei, mas dói tanto.
E eu sinto-me como Schindler se sentiu quando a guerra acabou. Salvou mais de mil judeus mas chorou pois sabia que poderia ter salvo mais se tivesse feito as coisas de outra maneira.
Sinto que não passei tempo suficiente com ele, sinto que houve situações em que podia ter-lhe dado mais atenção mas não o fiz... e agora... nada posso fazer!
E daqui tirei uma grande lição: Devemos dar sempre o melhor de nós às pessoas que amamos, apesar de às vezes estarmos chateados, cansados, ensonados... pois pior do que a dor de perder alguém, é a dor de saber que os perdemos e sentirmo-nos culpados por sabermos que podiamos ter dado mais de nós e não o fizemos!
Descansa bem amiguinho, onde quer que estejas, espero que agora sejas feliz.
Não te digo Adeus, mas sim até breve!